Visitei enfim um espaço que gostaria muito de conhecer: o Museu Arthur Bispo do Rosário, na Colônia. Era um dia que começou quente, as precipitações começaram cedo. Choveu bastante para o fim do dia, mas não havia ainda caído chuva quando saimos para perto das árvores do lado de fora para "caçar" materiais para nossa escultura.
Azizi Cypriano e Napê Rocha guiaram uma atividade assim que chegamos, numa sala não muito grande que parecia uma sala do educativo. Antes, por engano, fomos parar no auditório, com cadeiras de madeira tão velhas que só de tocar dava pra sentir a história. Na sala do educativo, entramos em contato com uma leitura, onde cada um de nós leu um fragmento. O que li foi o segundo parágrafo, que começa trazendo Nanã. A mais velha sempre será reverenciada na minha voz e, especialmente, no meu silêncio.
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Anotei uns verbos no final da folha e destaquei as perguntas, acreditei que elas seriam importantes para o processo. Depois nos foi pedidos para ir a caça e fomos. Voltei com um tronco que mais parecia um corpo, uma máscara, um mix de texturas. Intervi nele com argila e umas folhas verdes de um ramo que peguei no mesmo chão do tronco, caído de uma árvore frondosa acima. As árvores pareciam tão sábias... antigas. Depois, ao final, sentamos com nossas esculturas recém feitas do lado e falamos sobre elas. AnaV disse que a minha lembrou um fenômeno natural que acontece com as plantas, mas eu mesma sabia pouco ao que me referia enquanto criava algo em cima daquela criação que peguei. Depois que vi pensei em pele ferida, inserções, suturas, composição, contrate. Tudo muito incerto, mas achei um bom exercício de percepção.
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Stella de butuca
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A turminha em frente o OF
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Depois fizemos um outro exercício de percepção, onde dialogamos nosso processo com o de outres. Nathalia nos pediu que olhássemos para os portfólio um dos outros (estavam impressos em muitas folhas soltas) e escolhessemos uma obra nossa e mais duas outras obras para propor um diálogo, um caminho. Propor não, talvez o correto seja identificar. Escolhi a colab Corpo-Tambor, com Ventar as Chispas, onde anexei ao meu portfólio as minhas fotografias tiradas durante a gravação. Uma delas foi exposta no MAR, a com a fogueira. Trouxe Tandú, uma videoperformance de Tauã e Mizura, do Fracta, em ordem de aparição.
A conexão se estabelece na Encantaria. Tauã trás a umbigada com a grande árvore, o fio vermelho que é um cordão-umbilical, a força que conecta ancestral-árvore ao ancestral vivo. Somos essa conexão. Fracta trás isso na evocação do Encantado, no modo como se chama na região "mizura". A expressão e a postura que imprimem movimento, um movimento de respirar. Não é apenas nós que respiramos, tudo respira. O que está aqui e não se parece com a gente, o que não está e se parece, tudo que há em verbo, carne ou assombração. Corpo-tambor é celebração desse tudo que respira, dançar é como respirar. É isso que alimenta o ir-e-vir da vida. As cores também chamaram atenção, quentes. O vermelho, o laranja denso, o terroso. Sinto que essas propostas tem um chão em comum. Hoje penso a minha obra em comum, se encontrando no diálogo... afinal, isso que é construir uma exposição junte.
Antes, na sexta 17 visitamos o Muhcab para conhecermos um pouco da história do lugar que receberia nossas obras e também conhecer a sala que foi disponibilizada para comportar nossos trabalhos. Essa parte deu um apavoro, porque a sala é bem pequena se o comparativo vier com o Galpão Bela Maré. Teremos esse espaço e mais alguns espaços externos. A sala que iremos expor estava felizmente ocupada com uma exposição, a da artista Sonia Goes, que também estava lá para conversar com a gente sobre seu processo. Deu para ter uma boa ideia de ocupação da sala com as obras dela, uma exposição super sensível e bem curada que recebia o título de "Do parto à partida". Sonia é uma mulher que tem mais de 40 anos e tem muitos anos de trabalho como enfermeira, paralelamente se desenvolvia com a arte. Tem duas filhas, que aparecem em suas fotografias, além dela mesma. É bem motivador ver artistas mais velhas colocando seus trabalhos na pista. Fico feliz.
Seguem algumas imagens da visita:
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Obra do Rona |
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possivelmente uma cabeça de Exu, nos achados do Valongo.
Laroiê!Caminhos abertos para nós nessa etapa que abre a público dia 7/12