O tempo da coruja batuqueira

Hoje postei algumas dessas fotos tiradas pela Nábia do Sarau de Escritório no meu perfil no instagram junto de uma mensagem tanto de agradecimento como de despedida desse trabalho. Digamos que estou pensando nisso a um tempo, mas escrever e expor publicamente essa decisão foi um passo importante. Minha página na rede social está cada vez mais profissional, é sobre o que faço e como faço. Com quem também, claro.
Realizei apresentações no Sarau em Madureira, Nova Iguaçu e São João de Meriti. A curadoria foi de Lais Castro, referência e amiga. 
Curioso porque a alguns anos atrás eu fui convidada pra apresentar no Sarau de Escritório, em seu formato clássico na rua, ali na encruza em frente o Bar da Cachaça. Era também uma performance com projeção, o 'tá tudo preto'. Eu tive uma crise de pânico no dia, muita gente, meu coração disparou e eu saí andando sem avisar a ninguém da produção. Encontrei um amigo na rua e ele me acalmou, se não nem sei o que tinha sido.
Anos depois eu volto a ser convidada, dessa vez em um formato diferente do Sarau, no teatro, com fomento, outro lance. A rua tem sua magia, mas também tem suas perturbações que eu não consegui processar naquela ocasião. As coisas simplesmente acontecem e eu sou essa pessoa porosa.

Bom, comecei o ano participando do Ocupa CAM, revisitando essa pesquisa, em Abril participei da Residência Multilinguagens na Arena Dicró onde apresentei o trabalho com a mesma estrutura que apresentei dessas vezes no Sarau. Eu não costumava manter estrutura, era sempre diferente a cada vez por ser em espaços diferentes. Dessa vez me mantive e foi bom, me senti contemplada por cada escolha que repeti. O início com a cena do sonho do curta 'A Força' com trechos de Stela, a luz na mão e a pedra no rosto, a força em quatro apoios até sair do chão e encontrar a varinha de madeira, a dança com o fundo dos animais rupestres, os giros que se tornaram cada vez mais presentes, o movimento de invocação espiralar, a luz que mudava de cor para acompanhar os vagalumes e o toque da varinha na pedra com a Coruja Batuqueira. Assim foi, contínuo... repeti.

Sinto que estou em uma outra etapa, em outro momento, necessitando de outras evocações que já estão aí, incitadas por Terra de Bicho, afinal nada termina, tudo se transforma. Se fez necessário marcar esse encerramento "pra todos verem". Artistas precisam dessas coisas. Um TCC, roteiro de curta, referências mapeadas, apresentações e muita investigação em torno da minha corporeidade. Terra de Bicho foi e é a minha primeira escavação e eu já posso me dizer arqueóloga do movimento. Que venham muitas outras!

 






um dado: dentre os objetos cênicos utilizados na performance, está a minha varinha mágica, que nada mais é que um pedaço de pau que encontrei no mato e que utilizo como extensão do meu corpo para ativar magias. Eu danço com ela na performance e ao final bato com ela na pedra, trazendo um ritmo e cantando "Coruja Batuqueira". Um pedaço da ponta desse pau quebrou no final da última performance. Encarei como um sinal.