labcam#33 ao chão

Primeiro preciso me trazer até aqui, até hoje.
Já faz alguns meses que não desenho minhas pegadas com as palavras neste chão. O chão da pesquisa Terra de Bicho. Tem sido um momento de conclusão de ciclo, o TCC veio aí com uma escrita voltada para o meu processo e o tempo que estive graduanda me dedicando a esta investigação.Três estômagos, como os touros, um tempo ruminando e... a pesquisa ganhou algumas  páginas de desdobramentos que apresentei no dia 22 de Setembro, no Alojamento da UFRJ, lugar onde residi boa parte da minha graduação.
Estiveram comigo Aline Teixeira, minha orientadora, Thaisa Martins minha coorientadora e Ruth Torralba, ccomo minha banca. Amigos queridos também estiveram junto. Assim apresentei, meio gaguejando e sem cola em papel ou  no celular, primeiro uma breve fala sobre os capítulos, depois o curta A Força, cujo roteiro foi criado a partir da pesquisa e eu também atuei. Até gravei as falas, mas ainda não ouvi de novo. Ruth me fez chorar, disse que "libertei Stella" e isso me fez chorar também. Aline ficou muito feliz de ver que a frase que escolhi pra sintetizar esse processo é dela e, claro, eu meio que disse que não tinha como não ser. Thaisa foi perfeita nas coordenadas organizativas, fundamentais para que minha escrita fluísse e fluiu rápido depois de destravar o bloqueio.
Foi um processo bastante expansivo e agregador. Eu pude, depois da escrita, entender que eu desenvolvi uma pesquisa bastante dedicada, robusta e potente. Tem caminho porque tem construído caminho!


  




Esse ano estive próxima de TdB de outro jeito, um pouco mais burocrático talvez... mas estive. Formalizei de certo modo esta pesquisa na escrita e foi importante para ter dimensão do que galguei com ela. Tudo continua aqui pulsando, hoje gravei esse vídeo com os gatos lá no Alojamento, onde tenho passado uns tempos fugindo dos confrontos na Maré. São quatro gatos e um cachorro, que não veio dançar comigo no vídeo. O foco se perde, porque é manual, mas o que rolou foi algo como uma Jam com os peludos. Sempre que estou no chão eles vem interagir e dessa vez não foi diferente, vieram todos e não só porque eu chamei. 
Me coloquei em quatro apoios e me senti reorganizada, em equilíbrio. Sempre a sensação de retorno...
 
 
 
Anteontem também me chegou o seguinte post de um Insta super maravilhoso que sigo:

Respondi: Meu trabalho de pesquisa em artes trabalha essa (des)associação e tudo que ela ajudou a construir de pejorativo, especialmente a noção de superioridade humana sob as outras espécies. Isso tem procedência, razão e consequencias sérias que operam na forma como nos tratamos e nos afastamos dessa natureza da qual fazemos parte. São muitas camadas e um assunto bem denso, mas extremamente necessário para o reconhecimento das nossas origens, os caminhos naturais do nosso corpo - no meu caso sou pesquisadora da dança.
 
Algumas pessoas vieram me adicionar interessadas em conhecer mais do meu processo. Um estímulo pra mim, ainda mais porque uma dessas pessoas foi a própria gestora da página, que criou um grupo chamado natureza kuir pra gente trocar mais ideia sobre. 
Ah! Outra coisa foi que imergi nos áudios de Stela do Patrocínio na Bienal. Uma salinha redonda, escura, com almofadinhas e a gravação do falatório acontecendo, inteira e - acredito eu - sem cortes, indo de uma fita para outra. Eu fiquei ali, um bom tempo, eu fiquei ali sentada, sozinha, ouvindo a Stela falar de suas percepções e de seu desconforto, falar do que via e do que ouvia, falar de quem ela era, queria ser e jamais foi, tudo aspiralando na voz daquela mulher. Foi bem especial e teve um outro lugar pra mim quando a entrevistadora dela pergunta qual o sonho dela e ela responde "crescer e multiplicar". Sinto que ela não falava de ter filhos, procriar. Falava em repetição, firmando palavra, o eco de suas palavras em outros corpos.  
 
Você multiplicou, Stella do Patrocínio.