Thaina Meu Nome Iná

 Acho que só hoje tô conseguindo fundamentar essa minha busca ou processo de investigação, embora ela tenha sido sempre presente. Sempre mesmo, desde antes d’eu nascer (É possível? É!). A fundamentação veio agora porque eu sabia que só precisava de mais tempo com essa mulher: Aza Njeri. Uma mulher de muito fundamento, muito conhecimento pra compartilhar. Conhecimento ancestral.

Mas vá lá, um pouquinho de contexto pra você chegar. Estou participando da Mentoria artística Africanizze relizada pelo Ilê Atelayê da UFRJ e por ela, Aza Njeri. Foi tanto conhecimento disparado que eu sei que a partir de agora é que não vou conseguir mesmo parar de buscar. Foi isso que fiz, primeiro dia de encontro e eu já fui buscar o canal da Aza no Youtube. O vídeo que tô colocando aí embaixo pra você ver depois, foi o primeiro que cliquei e dá-lhe mais reflexão e busca!

 

 
 
A mãe da casa de Omolu que fui ouvir falar, disse que Xangô guiava meus pés. Encontrei a palavra/meu nome numa música pro Orixá da Justiça do Metá-Metá.


Disso não tenho prints, mas Daniela-mirmã, em épocas de flerte, ficava nessa de apelidar pra se fazer inesquecível e num é que a danada se fez?! Descobrimos que somos da mesma família e isso, pra mim, é sagrado. Me rebatizou, me chamou de Iná e sem esperar muito que eu respondesse se me importava ou não dela me chamar assim, só fez insistir nisso e o renome ficou. Virei Iná pra ela.

Depois disso eu entrei em várias reflexões temporárias que se tornaram fixas e agora na elaboração dessa escrita acho que tô tocando nelas mais a fundo. Apelido comigo, nunca pegou. Sempre detestei, no máximo um “Tatá” que minha tia Guiu inventa de me chamar quando a vejo, de vez em quando. Minha tia podia, era só de vez em quando e, sei lá, o “Tatá” é tão a cara dela que eu nem sequer saberia ouvir ela me chamando de outra forma sem achar esquisitíssimo. Agora… O Iná eu senti que não era apelido, sabe? Depois Daniela me disse do significado em yorubá, com cara de quem realiza algo de muito simbólico na vida de alguém naturalmente, como quem não quer nada (Irmã, tu é babado!).


 

Meu primeiro nome de registro não tem acento, mas deveria. Thaina. Isso sempre fez minhas professoras, principalmente as de lingua portuguesa e uma de matemática que eu lembre, me chamar pelo nome errado durante alguns muitos dias do ano letivo. Minha mãe disse uma vez meio por alto sem dar muita importância que isso foi coisa do meu pai na hora de registrar. Eu achava que também não dava muita importância pra falta, mesmo sabendo que aquilo sempre me incomodava. Parece que esse acento era uma farpa debaixo da pele, que incomodava mas não era visível nem pra tirar.

Falar em minha mãe, essa disse que meu nome surgiu pra ela de uma maneira muito simples mas inesquecível, foi com simplicidade que entendi. Uma pequena menina, de cerca de três anos como ela descrevia (tempos que não ouço essa história), disse seu nome à minha mãe numa apresentação super espontânea. Ela anotou o nome em um papel e o colocou dentro da bíblia, que era sem dúvida o livro que ela tinha mais acesso (era um costume dela fazer isso). Da lembrança o nome nunca saiu e o papel persistiu junto com o desejo de nomear uma filha de Tainá (grafia que só tive acesso depois do filme ‘Tainá Uma Aventura na Amazônia’).

 



Lembro de ter entrado de graça no cinema pra assistir esse filme, uma promoção pra quem se chamava Tainá. Não lembro se foi a primeira vez que visitei uma sala de cinema, mas sem dúvida foi muito transformador saber de onde meu nome veio, ainda que de uma forma meio plástica. Porém, consigo reconhecer que é melhor ter um filme brasileiro com uma atriz realmente indígena (tudo bem que distribuído pela Europa Filmes) contando uma história brasileira mesmo que de forma plástica, que ter um filme norte-americano fazendo isso de forma mil vezes mais distorcida plástica, tipo Barbie — falando de ficção. Esse filme foi uma referência pra mim e a cena aí de cima, claro, especialmente. Minha mãe dizia que o significado era “astro luminoso” mas “luz da manhã” me ascendeu de outro jeito, consegui me conectar com o ser elemental que habita o meu nome.

Thaina então virou Thaina Iná e também só Iná. Thaina do jeito que o primeiro registro do meu nome fez mostrar, Thaina Iná como um eco complementar, Iná como uma forma que eu gostaria de ser chamada quando mais velha, um elo com o futuro do meu passado. Sou esses nomes, agora, desde sempre sem amém, é axé mesmo. Axé é esse som que reverbera em conexão, que faz a gente se encontrar com a gente mesmo através do contato com a terra, com um irmão, com ritos cotidianos, com o nosso DNA, com nossos processos, com nossas escolhas. Meu nome é afro-indígena, porque eu sou das terras do sul da América, Brasil, terra indígena e preta. Meu nome é também quem eu sou e como diz a amiga Patrícia Rogéria, outra mulher babado forte: “preto tem nome e sobrenome”. Deixa que eu me apresento.

nome é Id visual > logotipo

PS: Meus sobrenomes são de origem portuguesa, por isso tenho preferido não usá-los mais.
A busca continua, continuo em movimento Sankofa.

***
Texto publicado no meu Medium em 8 de Outubro de 2019.