Eu, diretora [ainda tô verde]
Ainda Tô Verde foi minha experiência de direção de cena e, ufa, ainda bem que o trabalho era sobre isso: primeira vez e seus riscos. Aliás, é só na primeira vez que enfrentamos riscos ou eles são mais frequentes do que podemos prever e nos preparar?
Essa peça nasceu pra questionar.
O texto é da Dan, minha parceira na HiperbólicaS. Esse trabalho foi nossa estreia como parceiras de trabalho. Parimos um filho cru, nada maduro. Foi no terraço Petra Costa, no Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo que fica em Santa Teresa, o bairro mais hype do Rio de Janeiro. E foi a Ocupação Ovárias, que é um espaço incrível e cheio de manas fazedoras no somatório de forças pra fazer esse multirão de arte que a Ocupação é.
A gente não quis ficar de fora, então mesmo sem o questionamento estar programado na estrutura de uma peça ainda, Dan propôs a inscrição. Cheia de medos, inseguranças, com alguns recuos, pensando bem se era válido, tudo aquilo que a insegurança proporciona, Dan entendeu que tinha um texto e fechamos o acordo de que eu iria dirigi-la.
Não tivemos muitos ensaios. Um no dia que gravamos o vídeo para enviar junto da proposta e outros dois no refeitório do alojamento, alguns dias antes da apresentação. No começo, a cumplicidade atrapalhou um pouco, mas logo entendemos que a gente precisava trabalhar e melhor mesmo era que fosse com entrega, intimidade, parceria e sintonia. Assim foi!
Como se tratava de um texto inspirado em situações vividas por ela, eu quis escutar, quis entender a maneira que ela se colocaria com mais verdade, que a mensagem seria passada de forma mais espontânea e sem muitos códigos a serem decifrados, só os essenciais. Coreografamos uma cena, mas entendemos que era necessário mais tempo para que o amadorismo defendido se tornasse uma escolha mais bem apropriada. Um processo sem cobranças, muito entendimento, diálogo e jogo.
Me senti mais eu nessa função, pude ser mais observadora e propor coisas necessárias a uma melhor dinâmica de cena, a uma mensagem mais comunicativa vindo da comunicadora. Dan recebeu, disse que eu sabia bem o que dizer, eu achei graça porque considerei tudo tão fluido... Claro, um nervosismo sem fim também! A gente fica apreensiva mesmo antes de apresentar uma ideia, uma questão, antes de levantar uma bandeira, mas o sentimento de "dever cumprido" é fascinante. Pra mim é realmente fascinante!
O corpo em cena é estratégico, é revelador, é o canal mais importante. Não existe a possibilidade de impor a voz e abandonar o corpo, esse não é o teatro que acredito. Acredito na mensagem incorporada que só depois disso feito, consegue afetar. E nossa, nós fomos bastante amadoras!
Imprimimos o texto, cada uma ficou com uma cópia. Tiramos foto com ele.
Filmamos toda a peça.
Montamos uma bolsa de produção que era na verdade minha sacola de mercado.
Um dos figurinos foi uma blusa achada na doação do alojamento, que só depois da peça descobrimos que era do Isaac, um amigo querido que foi assistir. Figurinista indireto.
Roubamos temporariamente a plaquinha de "Piso molhado do alojamento".
Criamos um convite em vídeo nomeado de criptoconvite.
Pedimos depoimento dos nossos amigos sobre a peça.
Inscrevemos ela num outro edital no dia seguinte.