exercício M [da experiência solo]
hoje o Facebook me lembrou de uma coisinha:

Esse texto era o texto que eu dizia na minha apresentação individual do 'Exercício M: de movimento, de Maré". Esse exercício cênico que ajudei a criar e a dar vida quando fiz parte do Núcleo 2 ou núcleo de formação continuada na Escola Livre de Dança da Maré, que fica no Centro de Artes da Maré (CAM). A Maré é um complexo de favelas localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, primeiro local onde morei após sair do hospital quando nasci, local que acolheu minha mãe quando ela veio da Paraíba para o Rio de Janeiro e local onde passei boa parte dos meus dias até aqui, absorvendo e observando o movimento acontecer.
E é especificamente na favela de Nova Holanda que se localiza o Centro de Artes, o local onde vivemos boooa parte das experiências da formação e criamos, não só essa montagem, como muitos outros portais de dança sozinhos ou em coletivo.
O textinho aí em cima, é o texto que falo na minha primeira entrada. Na estrutura do Exercício, o primeiro momento era uma apresentação individual, onde cada um ocupava o espaço para apresentar-se da maneira que havia escolhido. Ocupamos o espaço com uma apresentação honesta e inteira, afinal apresentação é uma coisa séria, ainda mais quando se tem um tempo restrito antes de dar lugar a outro(a).
O texto saiu de mim depois de muitas inquietações. Parte dele escrevi em um caderno de processo e lembro que tive muitas dúvidas para escolher as palavras certas, as respirações e, mais ainda, a trajetória. Essa ultima fora um pedido especial de Lia Rodrigues, quem coreografou a montagem e também coordenadora artística da Escola Livre de Dança da Maré, atuando de uma maneira mais próxima com o núcleo de formação nessa ocasião em especial. Isso ficou comigo, isso de demarcar esse espaço, definir as trajetórias, "que caminho você vai fazer?". Depois dos momentos de ocupações individuais alternadas do espaço, a gente se juntava em duplas, depois em grupo, numa massa coordenada mas nada uniforme. Éramos um grupo bastante diverso.
A minha frase, essa última do textinho, era a frase que servia de "deixa" para a entrada da música. Ela recaía como um peso leve em cima do ambiente, pelo menos eu sentia assim, e junto com o efeito da música, esse efeito era demarcado. Sempre, antes de entrar, eu tentava não repassar as palavras na cabeça, aprendi isso porque quando tentei fazer isso das primeiras vezes, tive a impressão que não sabia meu texto. Quando me posicionava no espaço, eu respirava e começava a falar. Só depois da respiração. Tudo saía naturalmente, eu estava falando sobre mim, não tinha como "errar".
Abaixo, Exercício M na íntegra, gravado na nossa ida a São Paulo, onde dançamos na Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo.
PS:
esse "meu perguntaram" se referia a uma pessoa pontualmente, Carol Pedalino. uma professora também no CAM, muito querida e importante na minha trajetória.